Alegria
O dia era de folga e de aniversário, sem horas e sem grande agenda. Idealizei a tranquilidade das horas, o reconforto de me dar à preguiça e a alegria de fluir com o momento. Estava combinado um brunch em família para as onze horas e com o aproximar da hora, vendo que ninguém estava interessado em cumprir horários, começo a sentir-me contraída, começo a tentar controlar tudo e todos para que o dia fosse "conforme o planeado". Como sempre acontece, houve trânsito onde não costumava haver, não havia estacionamento onde por norma sempre há e antecipando "um dia estragado" pensava "só falta não termos mesa!". Chegamos e tínhamos uma linda mesa à nossa espera, o ambiente estava calmo ainda com cores e cheirinho de Natal, tudo convidava alegria, mas eu não a senti…
"O que é feito da nossa alegria?" Pergunta Tolentino de Mendonça. "A meio deste percurso que é a nossa vida, perguntemo-nos pela nossa alegria, busquemos as suas secretas fontes."
Tara Brach define Alegria como um estado de amor pela VIDA com tudo o que ela inclui. E que a alquimia para a Alegria é a combinação entre a abertura e fluidez. Tolentino acrescenta que Alegria é algo que Deus derrama em nós continuamente, que não nos pertence, que nos atravessa, que é um dom. Arrisco-me acrescentar às suas palavras, o dom de estarmos em ligação com o que chamamos de divino, ou seja, de estarmos com a vida que acontece. Assim, Alegria seria uma experiência intrínseca, que nada tem haver com o exterior, mas com uma escolha e uma atitude de nos abrirmos aquilo que é. E nessa abertura a vida acontece de forma espontânea, vibrante, dinâmica, criativa.
Será possível sentir alegria mesmo numa vivência difícil? Dalai Lama diz que "criamos a maior parte do nosso sofrimento, por isso é lógico que tenhamos também a capacidade de criar mais alegria". O que muitas vezes está entre mim e Alegria é a resistência ao fluir do momento, na tentativa de agarrá-lo ou fugir dele. Quando estou a tentar controlar as coisas, a tentar fazer as coisas acontecerem, a tentar fazer-me diferente, a fazer com que o outro seja diferente. Sempre que eu julgo, guardo ressentimentos, não perdoo. Sempre que alimento a nossa humana tendência para a insatisfação, a sensação constante de que devia estar em algum outro sítio, a fazer outra coisa qualquer, que não é este o momento que realmente conta, há uma tensão e os meus sentidos não estão abertos ao que está aqui, logo, a Alegria contida em cada momento não aparece.
Alegria também pode ser assustadora, pois obriga à vulnerabilidade e ao relaxamento, abrir mão da sensação de controlo e fluir com o que é.
Alegria requer coragem para aceitar a vida tal como ela é ou está. É o assumir de que este é o único momento que realmente conta. E no agradável e desagradável, no fácil ou difícil me abrir à experiência do agora, dizendo-lhe "sim", que o recebo e o aceito. É um evangelho (palavra que literalmente significa boa mensagem ou boa notícia) necessário, mas difícil, o da Alegria, diz Tolentino.
"Neste fluir continuo que é a vida, existe um sem fim de escolhas. Apenas uma nos traz Alegria: amar o que é!" Dorothy Hunt
Um 2025 cheio de Alegria! 😊
Rita
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