Lições de Outono: Desapego

01-11-2020

O ciclo repete-se. De novo as folhas verdes das árvores amarelecem, secam e caem. Nada nesta vida dura para sempre, tudo tem um nascimento ou inicio, um desenvolvimento ou crescimento e a decadência ou morte ou fim. Que tudo muda, que nada permanece são das maiores certezas que temos deste mundo.

É com a serenidade do desapego (vairagya), que a árvore se despede das folhas que já não lhe servem, que os jardins perdem as flores que os embelezaram e perfumaram, que as aves deixam os seus ninhos e partem para terras mais quentes. A natureza ensina-nos a não questionar tanto a mudança porque sabe que ela é inevitável. Convida-nos a reconhecer a inteligência da criação e a abrir mão do que já não serve. Lembra-nos que o fim de um ciclo é necessário, para que depois de um tempo de recolhimento, de introspeção, crescimento e por fim amadurecimento, haja a força e o discernimento para abraçar novos ciclos.

Na tradição hindu, Shiva é visto como aquele que destrói. É um dos pilares da Trindade que representa este ciclo de nascimento e morte: Brahma - o Criador, Vishnu - o Preservador e Shiva - deus da Destruição. Para que o ciclo se renove, para que novos nascimentos, novas criações aconteçam a destruição é imperativa. Shiva o deus Destruição para a transformação e renovação.

Nesta estação do desprendimento, o que não deixas cair? Quais os ciclos que não deixas fechar? O que carregas que já não te serve? Ou que já não te pertence? Ou que nunca foi teu? Que transformações ou renovações não deixas surgir?

Reflete sobre o que é realmente importante, que caminho valerá realmente a pena seguir? Onde estou e porque estou aqui? Porque continuo agarrar pensamentos, comportamentos, situações que me cansam e me esgotam, me fazem sentir pequeno, inadequado, não merecedor, me distanciam da minha paz e felicidade?

Vairagya, o desapego só acontece no entendimento! Não é negação, não é sacrifício, não é ascese. Implica lentidão, solidão, silêncio, introspeção e abertura para escutar e entender as verdades difíceis sobre nós mesmos. Requer a coragem de nos assumirmos como os únicos responsáveis pela nossa vida, pelo nosso caminho, pela nossa felicidade, pelos nossos pensamentos, sentimentos e emoções. Pede abhyasa, a repetição constante de me lembrar de que sei que há algo melhor, algo mais elevado, mais autêntico. Pede consciência no momento para perseverantemente agir de encontro ao que é realmente importante, me torna simples, leve, livre, PAZ.

Que todos possamos encontrar a nossa paz! Om Shanti!