O tempo que me dão...

01-08-2025

Acho que a vida não nos quer distraídos!

Porque outra razão mascararia o Amor em personagens secundárias, momentos simples e inesperados, paisagens familiares? Não deveria ser anunciado por um cortejo de tambores e de foguetes? Ser capa de todos os jornais? Ser viral nas redes sociais?

Ao que parece surge no silêncio, sem data marcada ou local definido, na maioria das vezes nos recantos menos prováveis e nos corações mais anónimos. Ou, talvez numa hipótese mais provável, será como o ar que respiramos, sempre presente, mas raramente sentido ou notado, só se revelando aos olhares mais atentos ou corações mais despertos.

O belíssimo e gigante sol vermelho que se põe no céu cor-de-rosa, enquanto regresso a casa, faz-me pensar no tempo que me dão.

Porque hoje não ando tão distraída quanto outrora, porque já sinto como a vida me foge, sei que muitas vezes o amor está no tempo que dou e no tempo que me dão (e sem querer estou a citar António Variações!).

Sou como o coelho branco, sempre a olhar para o relógio "Como se faz tarde! Tenho um compromisso importante!" e nem sempre consigo amar dando o tempo necessário. Mas hoje por amor deram-me tempo, saíram das suas vidas para acrescentarem tempo e amor à minha. E reflito como (pois o amor acontece despercebidamente) muitas vezes dou como garantido (vergonhosamente digo, um dever!) o tempo que o outro me dá e que muitas coisas que dou como certas devem-se ao tempo de alguém.

Olho para o relógio, para ver quanto mais tempo tenho para escrever este texto. Talvez o relógio devesse ter sido inventado não para controlar o tempo, mas para nos (re)lembrar o amor que pode existir nos segundos, horas e dias. E nos fazer questionar quanto tempo amamos. 

Rita

imagem retirada de: https://olhardigital.com.br/2023/12/23/ciencia-e-espaco/quanto-tempo-tem-em-um-segundo-descubra-a-origem-da-unidade-de-medida/#google_vignette</p>