Outono

"Perguntei à folha se ela estava assustada porque era outono e as outras folhas estavam a cair. A folha respondeu: 'Não...'" Thich Nhat Hanh
Gosto muito do Outono, para mim é a estação que oferece as paisagens mais sublimes. Uma caminhada pela natureza outonal, enche o meu coração de beleza, de cor, de luz. Até na destruição a natureza consegue ser bela!
São muitas as metáforas e as aprendizagens que podemos retirar desta estação. Muito se escreveu, se escreve e se escreverá sobre o "entardecer da terra", como diz Fernando Pessoa, mas parafraseando Tolentino de Mendonça "dá que pensar que seja o outono, esta estação quebradiça, frágil, a tomar-nos pela mão, acompanhando-nos nas visíveis e invisíveis despedidas e apresentar-nos com a sua a intensidade, cor e fulgor, que no nosso fim está o nosso início.
Para mim o Outono é símbolo do paradoxo da impermanência e da continuidade da Vida.
Thich Nhat Han, um monge budista e poeta, conta que num dia de Outono, deu por si absorvido a contemplar uma pequena, linda e vermelha folha, que estava quase a cair da árvore. Perguntou-lhe se estava assustada porque era outono e as outras folhas estavam a cair. A folha respondeu: "Não. Durante toda a primavera e o verão, eu estava muito viva. Trabalhei duro e ajudei a nutrir a árvore, e muito de mim está nela. Por favor, não digas que sou apenas esta forma, porque a forma da folha é apenas uma pequena parte de mim. Eu sou a árvore inteira. Sei que já estou dentro da árvore e, quando voltar ao solo, continuarei a nutri-la. É por isso que não me preocupo. Ao deixar este galho e flutuar até ao chão, acenarei para a árvore e direi: 'Vejo-te novamente em breve.'"
E depois de um tempo a folha deixou o galho e flutuou até ao chão dançando alegremente.
Não sou como a folha que de forma alegre e destemida aceita os ciclos da vida, confiando que a transição, a mudança, o fim, a morte são apenas um novo início. Não compreendendo em pleno esta lei da continuidade, de que nos fala o Outono, refugio-me nas palavras do heterónimo Ricardo Reis no seu poema "Quando, Lídia, vier o nosso outono" em que diz "reservemos um pensamento, não para a futura primavera, que é de outrem, nem para o estio, de quem somos mortos. Senão para o que fica do que passa - o amarelo atual que as folhas vivem."
Rita