Respiração e Emoção

01-03-2024
"Com a acção de respirar em atenção plena, viajamos ao nosso interior. O nosso corpo respira; e o nosso corpo é o nosso lar. Em cada respiração, conseguimos regressar à nossa essência, ao nosso lar."
Tich Nhat Han.


Existe uma relação entre respiração e emoção. Empiricamente sabemos que as emoções afetam a nossa respiração e que a respiração afeta os nossos estados de espírito, não sendo à toa as expressões como "respira fundo!", que vulgarmente usamos quando vemos alguém nervoso ou ansioso ou "é de tirar a respiração!", quando vivenciamos algo emocionalmente forte ou "nem tive tempo para respirar!", quando nos sentimos assoberbados e em stress. É frequente sustermos a respiração quando vivenciamos situações tensas ou sentirmos o ritmo respiratório acelerar e a respiração a ficar mais superficial (mais ao nivel do peito) quando sentimos raiva. Pensemos agora num gato preguiçoso e relaxado, estendido a desfrutar de uma tarde de sol, de como a sua respiração é subtil e diafragmática, a sua barriga de forma suave sobe e desce, sobre e desce.

Muitas das tradições orientais trouxeram-nos (ao ocidente) técnicas e exercícios respiratórios, havendo um grande consenso nos benefícios relatados pelos inúmeros praticantes da respiração consciente. Sensações de tranquilidade, paz, calma e relaxamento. A experiência de um estado de concentração profundo, uma maior consciencialização do momento, um estado de alerta calmo. "Um sentimento de quietude extremamente agradável".

Observando e verificando como as técnicas de respiração consciente se demonstraram extraordinariamente eficazes em libertar o stress citadino e as tensões da "vida moderna", a Ciência começou a interrogar-se como e porquê estas conseguem "desacelerar o corpo, a mente e o metabolismo em geral, de forma a fomentar a tranquilidade"?

Contrariamente ao defendido por muitos mestres e professores, a influência da respiração nos nossos estados de espiríto, não está relacionada com um maior aporte de oxigénio ao corpo, mas sim com a sua influência no sistema nervoso autónomo (SNA). Este constitui uma parte do sistema nervoso, que como o nome indica é autónomo, ou seja, age independente da nossa vontade ou consciência e regula os músculos lisos, orgãos internos, os instintos e funções primárias como a respiração, ritmo cardíaco ou a digestão. Durante muitos anos os cientistas acreditavam que as atividades reguladas pelo SNA estavam para além do controlo de mente consciente. Mas as investigações sobre técnicas respiratórias e práticas como o yoga e meditação, revelaram que é possível através de técnicas e exercícos abrandar a respiração e o ritmo cardíaco, o que promove um relaxamento profundo do sistema nervoso autónomo, decrescendo a atividade na parte do SNA chamada de simpático (responsável pelas respostas de luta ou fuga) e estimulando a parte do SNA chamada de parassimpático, que é responsável pela regulação das funções de descanso e digestão.

A estimulação do parassimpático, leva a um abrandar da nossa mente, do ritmo dos nossos pensamentos, da ruminação e do ruído interno, havendo uma experiência de algum silêncio interior, de uma profunda sensação de relaxamento e tranquilidade que são marcas de uma verdadeira concentração. A concentração pode ser definida como uma completa emersão em alguma coisa, de tal forma que a nossa mente se torna vazia, no sentido de deixarmos de pensar tanto na tarefa e simplesmente desempenharmos e "sermos" a tarefa. Relaxamos e tornamo-nos presentes, receptivos ao momento, mantendo o pensamento num único assunto, sem permitir que ele se desvie para outra coisa. Uma mente verdadeiramente concentrada é uma mente relaxada. E o verdadeiro relaxamento é ativo, é uma disciplina do corpo e da mente que conduz a mente até ao aqui e ao agora, eliminando temporariamente a tendência de estarmos ou no passado ou no futuro, criando uma calma profunda mas ao mesmo tempo em que estamos totalmente alerta. Uma mente focada, é uma mente relaxada e satisfeita!

E para o exercício dessa concentração, desse relaxamento e dessa satisfação, temos uma técnica altamente eficaz, gratuita e disponível a ser praticada em qualquer hora e em qualquer lugar: a respiração consciente!


Bibliografia:

Bacci, Ingrid. 2000. A arte de viver sem esforço. temas e Debates - Actividades Editoriais, Lda. Lisboa. Portugal. 

Broad, William J. 2012. The Science of YOGA. The Riscks and the Rewards. Simon & Schuster, Inc. New York, USA.

Hanh, Thich Nhat. 2023. SILÊNCIO. O poder da quietude num mundo repleto de ruído. Editorial Presença. Barcarena. portugal. 

Imagens retiradas de https://healingyoga.ie/how-to-breathe-better/