"No entardecer da Terra"

"No entardecer da terra,
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão."
Fernando Pessoa

Outono é cor!

Tolentino de Mendonça escreve sobre a "inescusável relação entre as cores e a vida" e "de como as cores não só nos ensinam a olhar a vida com maior atenção, mas ampliam as competências de um outro sentido: o da escuta".

São tantos hinos, canções e sonatas a esta estação, que consigo imaginar este lindo "entardecer da terra" como um coro de cores. E seguindo o conselho de Tolentino de Mendonça de "encostar cada cor ao nosso ouvido" ouço um bonito Adagio sobre o eterno ciclo de vida/morte/vida, sobre as estações externas e internas que atravessamos. 

Nesse coro que tem como maestro o vento, os castanhos dão-nos as vozes do Baixo, que nas suas vozes mais graves nos devolvem à terra, ao momento, nos enraizam ao simultaneamente frágil e poderoso AGORA. A Soprano, os laranjas e vermelhos cantam sobre as boas e más colheitas de sonhos outrora plantados. Das podas necessárias em nossas vidas e do voltar a preparar, lavrar e fertilizar mentes e corações para receberem novas sementes de esperaça, força e coragem, para novas aprendizagens e crescimento. Os amarelos e dourados, a Contraaltos, num tom mais agudo, lembram, ao longo do escurecer da estação, do sol, de luz e alegria que somos. E a Tenores, os verdes que entoam as notas de uma primavera que sempre voltará por muito rigoroso que seja o inverno.

Bibliografia:

Mendonça, José Tolentino. (18/11/2022). O que nos dá o outono. Semanário Expresso. Disponível em: https://expresso.pt/opiniao/2022-11-18-O-que-nos-da-o-outono-80afea69. Visto em: 01/10/2023.

Mendonça, José Tolentino. (24/09/2012). Sonata de outono. Diário de Notícias - Madeira. Disponível em: https://www.snpcultura.org/paisagens_sonata_de_outono.html. Visto em: 01/10/2023

Pessoa, Fernando. (1910). Ilustração Portuguesa, 28 de janeiro de 1922, p. 86. Disponível em: https://www.pessoadigital.pt/en/pub/Pessoa_Cancao_de_Outomno. Visto em: 01710/2023