Perdão, Gratidão, Compaixão e Generosidade.

28-06-2025


" A compaixão é a nossa mais profunda natureza. E surge da nossa interconexão com todas as coisas"
Jack Kornfield

Quanto mais leio e pesquiso sobre como viver em e na Alegria, há um conceito que prevalece: Interdependência. Dalai Lama diz que um pensamento demasiado centrado no eu é sempre fonte de sofrimento. A visão de um "EU" isolado é uma contradição, pois a verdade é que não se pode sobreviver sozinho. Um simples pão, que damos como garantido todas as manhãs, está dependente da sabedoria e da capacidade do padeiro, dependente de uma frota de camiões que lhe fazem chegar os ingredientes, dependente do trabalho dos agricultores que semeiam, cultivam e colhem os cereais, do clima, da qualidade dos solos, do princípio inteligente que criou este mundo, e que de uma pequena semente faz vida. Estamos dependentes ou conectados a todos e a tudo, e esta ideia é a base de toda a espiritualidade e a chave para a Alegria.

Dalai Lama e Desmond Tutu referem quatro importantes qualidades da mente para o entendimento da interdependência e o cultivo da Alegria em nossas vidas; perspetiva, humildade, humor e aceitação. A estas acrescentam quatro qualidades do coração: perdão, gratidão, compaixão e generosidade. Perdoar passa por aceitarmos e nos libertarmos do passado, mas ambos são claros, perdoar não significa esquecer, não significa não reagir aos atos ou permitir que sejamos de novo atingidos. Perdoar não significa que não procuremos justiça, nem permitir que os outros pratiquem o mal. Perdoar significa não alimentar o ódio nem ficarmos presos ao ressentimento ou a raiva que podem ser extremamente destrutivos. Perdoamos para recuperarmos a chave da nossa felicidade e o controlo do nosso destino. Anthony Ray Hinton passou 30 anos no corredor da morte por um crime que não cometera. Numa entrevista quando lhe perguntaram se se sentia zangado com aqueles que o tinham posto na prisão e roubado 30 anos de vida, ele respondeu que já tinha perdoado todos, explicando que "se ficar zangado e não lhes perdoar, então ter-me-ão tirado o resto da vida."

Se conseguirmos fazer as pazes com o passado, a entrega ao presente torna-se numa prática de gratidão, o reconhecimento de tudo o que nos sustenta na teia da vida, de tudo o que tornou possível termos a vida que temos e o momento que estamos a experienciar. Não significa ignorar ou negar os aspetos negativos da vida, mas a escolha de também apreciar tudo o que nos foi dado e de tudo aquilo que temos, de todas as dádivas e abundâncias que temos na vida.

Relacionado com a interdependência está o conceito de humanidade partilhada ou humanidade comum, a compreensão e aceitação que todos somos feitos de forças e lutas – que ninguém está imune à dor e ao sofrimento, que faz parte da experiência de ser humano ter traços de personalidade menos positivos, passar por momentos difíceis e termos sentimentos de sermos desadequados e limitados. Quando sofremos temos tendência a pensar que só "EU" é que vivo essas experiências, o que torna a experiência ainda mais difícil e dolorosa. Perante o sofrimento (nosso e do outro), a ação que mais rapidamente nos devolve à Alegria é a compaixão, e a consciência da humanidade partilhada é um dos pilares da mesma. Compaixão é a prática de aceitar os momentos difíceis, reconhecer a humanidade partilhada que nos lembra que não estamos sozinhos na dor que sentimos, e responder ao nosso sofrimento e ao sofrimento do outro com compreensão e ações de bondade e generosidade.

A generosidade que pode significar dar bens materiais ou dar apoio para enfrentar o medo com proteção, aconselhamento e consolo. Mas a generosidade que nos leva mais diretamente à Alegria, é a generosidade de espírito. O ter um coração e uma mente abertos ao momento, conscientes da nossa ligação com os outros e com humildade, humor e aceitação abraçar a nossa experiência humana, perdoando o passado e não forçando a vida a ser outra coisa para além daquilo que é, sendo gratos por tudo aquilo que nos foi dado e vermos o outro como um igual, desejando que todos sejam livres de sofrimento e que vivam em Paz e Alegria.

Rita




Referência Bibliográficas

Lama, Dalai; Tutu, Desmond. (2022). O Livro da Alegria. Penguim Random House Grupo Editorial Portugal. Lisboa.

Brown, Brené (2021). Atlas of the Heart. Penguim Random House UK. London.

Kornfield, Jack (2008). The wise heart: a guide to the universal teachings of Buddhist psycology. Bantam Books. New York. United States of America.

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