"Quando vais para o jardim olhas para os espinhos ou para as flores?"

30-11-2025
"Meu amigo, não te sentes muito tempo com a tristeza. Quando vais para o jardim olhas para os espinhos ou para as flores? Passa mais tempo com as Rosas e o Jasmim." Rumi


Há dias em que parece que não há lugar para Alegria. Seja pelas notícias, pelos desafios do mundo, ou da nossa vida, por feridas e mágoas internas, a Alegria parece algo distante, teórico, demagogia. Num desses dias, ao ouvir a monja Liên Shutt, fiquei a pensar…

Liên disse mais ou menos isto:

"Não é que tenhamos de sofrer para encontrar alegria, é que não podem ser separados, alegria e sofrimento coexistem e praticar alegria é aprender a estar com as duas."

"Coexistir" e "aprender a estar com as duas". Tenho em mim a crença que a tristeza é "má" e alegria é "boa" e por isso tenho de fugir da primeira e agarrar a segunda. Nunca tinha refletido na possibilidade de "abraçar" simultaneamente Alegria e sofrimento. Nas tradições não dualistas Alegria não é o "certo" e a tristeza o "errado", há Algo que engloba tudo, e tudo faz parte da experiência de estarmos aqui. Herman Hesse, também partilha da mesma opinião ao afirmar que "A alegria e o sofrimento são inseparáveis como compassos diferentes da mesma música."

Jack Kornfield afirma "se hoje fosse o teu último dia de vida, por muito má que tivesse sido a tua vida recentemente, e alguém te oferecesse mais um dia. Tu aceitavas? A maioria das pessoas que conheço diria «Claro que sim!» e nesse dia pensaria: «Vou ter saudades deste mundo, olha para as arvores, os céus, os rios…».   É tão bonito quando, no sofrimento, encontramos a beleza, o momento em que nos conseguimos reconectar com o milagre que é esta vida, com a experiência de pertencermos aqui."

Liên relembra-me que Alegria é um estado e uma prática. Está sempre aqui, é a nossa natureza, e a prática é de nos reconectarmos com ela e a expandirmos. Não fugir da nossa tristeza, mas recentrar a nossa perspectiva sobre sofrimento, sempre lembrando que onde há espinhos, há flores!

Rita


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