Shiva - o Adiyogi

28-05-2023

Shiva, o Adiyogi (o primeiro yogui); o Adiguru (o primeiro professor); o Mahadeva (o grande Deus); o Nataraja (o deus que dança); Shambo (o auspicioso); o pacificador; o bondoso…

Shiva o destruidor; o furioso; o cruel; o que tem como amigos os Gunas (seres distorcidos, pervertidos e loucos)…

Quando nos referimos a Shiva como um deus, ele pertence à trimurti (trindade) da criação (deus Brahma), conservação (deus Vishnu) e destruição (deus Shiva). É pois aquele que destroi, elimina, traz a morte e o fim. Contudo, dentro de uma tradição que tem uma visão cíclica do tempo e da existência, a morte dá sempre lugar à vida, o fim pressupõe sempre um novo início, a destruição tem em si mesma o poder da criação. E por isso Shiva simboliza em simultâneo a morte e a vida, o fim e o começo, a destruição e a criação. Esta dança contínua de opostos que caracteriza a existência.

Nos textos clássicos, são inúmeras as histórias que ilustram o seu carácter tão contraditório. Por um lado o deus que movido pela bondade e pelo amor é capaz de se auto sacrificar pelo bem da humanidade, por outro o poder destrutivo do seu lado irado e vingativo.  

  

"É o deus do paradoxo, cheio de contradições, o que destrói e o que cria. É sensual mas ao mesmo tempo ascético. É tanto benevolente como irado".

Mas também nos podemos referir a Shiva como um yogui, o adiyogi, o primeiro yogui. Aqui ele é simbolo da meditação, do pranayama (o que controla o Prana, a vida) e da quietude que procuramos em cada asana. 

Conta a história que quando Shiva eliminou a sua identificação com o Ego/mente e permaneceu na unidade da existência que é Sat (existência; Eu SOU), Chit (consciência) e Ananda (graça, felicidade, êxtase), caminhou até aos himalyas e começou a dançar: A Tandava, a dança divina do eterno ciclo de criação – perservação – destruição. Enquanto dançava totalmente entregue a ritmos que só ele sentia, tanto se movia rápida e ferozmente durante longos períodos de tempo como ficava totalmente imóvel por outros longos períodos de tempo.

Considero que toda a mitologia tem em si o poder de nos fazer refletir sobre as grandes questões da vida. Enquanto deus do paradoxo, Shiva faz-me questionar sobre o que é a espiritualidade. Ele aponta que não há sagrado sem profano, nem religioso sem mundano. Aqui e agora, na minha dual e contraditória humanidade eu ´já sou o divino!  E entregue a esta dança de opostos, consciente de cada ritmo e sabiamente ajustando o passo, Shiva, o Adiyogui (yoga que significa unir), relembra que o caminho é a rendição e a união. Pois não serão dança e o bailarino um só? E por muito que a dança mude ou até termine, não permanece o bailarino o mesmo?


ॐ नमः शिवाय

Om Namah Shivaya


Rita

Bibliografia:

Agulla, Gauri (2004). Bhakti Yoga. Mitología e Kirtan. Yoga Center s.l. Madrid. España.

Olson, Bradley (24/02/2017). MythBlast | Shiva and the Great Dance. Disponível em: https://jcf.org/mythblasts/shiva-and-the-great-dance/. Visitado em: 25/05/2023.

Watts, Alan (Spring 2021). The Cosmic Dance. Excerpted from the book The Two Hands of God by Alan Watts. Disponível em: https://www.theosophical.org/publications/quest-magazine/5048-the-cosmic-dance. Visitado em: 20/05/2023.

Cartwright, Mark (10/05/2018). Shiva. Disponível em: https://www.worldhistory.org/shiva/. Visitado em: 20/05/2023.

Astroved (28/09/2022). The Meaning Behind Every Symbol of Lord Shiva. Disponível em: https://www.astroved.com/blogs/behind-every-symbol-of-lord-shiva. Visitado em: 26/05/2023.

Scholarblogs (24/11/2015). Shiva. Disponível em: https://scholarblogs.emory.edu/rel100hinduism/2015/11/24/shiva/. Visitado em: 26/05/2023.

Sadhguru (2014). Shiva – Ultimate Outlaw. Isha Foundation. Coimbatore. India. Formato ebook disponível em: https://isha.sadhguru.org/mahashivratri/downloads/shiva-ebooks/ . Visitado em: 26/05/2023.

Imagens retiradas de; https://isha.sadhguru.org/mahashivratri/downloads/mahashivratri-wishes-greetings-images/